Assunto: eis que me deparo
“Inoxidável Mauricio,
fuçando umas revistas antigas aqui em casa, eis que me deparo com um exemplar, comprado em sebo, de uma edição da Pipoca Moderna com uma matéria sobre os punks cariocas com fotografias suas. O detalhe é a anotação na capa com os horários de alguns programas da Fluminense, encabeçado pelo RockAlive!
Não peguei essa época, mas integro a nação Ronqueira desde os tempos do RoncaTripa. Quando você mencionou a festa no Arco do Teles em um dos últimos programas, lembrei que acabei ficando de fora naquela que acho ter sido a última que rolou por ali. Chegamos atrasados, eu e a galera que estava comigo, o local já estava abarrotado e ficamos do lado de fora. Lembro vagamente de ter rolado uma confusão, de você ter aparecido na portaria, quando ainda apelamos pra que liberasse a nossa entrada, mas aquele dia estava realmente impossível. Bem capaz de ter sido o dia que o segurança estalou o pipoco pra cima daquele seu amigo nervosinho.
Depois que saí do Rio, fiquei muito tempo afastado da Tripa, mas voltei na época da Oi, já conectado via uébi. Mas nos anos 90, durante bom período, RoncaTripa e Radiola formataram boa parte de meu universo musical. Aquela sensação maravilhosa de ouvir algo inédito, algo que você sabe que vai redefinir sua vida a partir daquele instante, que te move do lugar ainda que você esteja imóvel – essa sensação eu tive várias vezes ouvindo o Ronquinha. Ainda mais em uma era pré-internet, com uma MTV ainda incipiente e que não era fácil de acessar, muitos artistas que eu só conhecia de ter lido ou ouvido falar, ganharam concretude sonora naquelas duas horas semanais. De PJ Harvey a Nação Zumbi, uma infinidade de sons eu tomei conhecimento por ali. E não eram só as contemporaneidades, Mutantes, Velvet Underground, Jackson do Pandeiro, Nina Simone, Moreira da Silva, Captain Beefheart, foram incontáveis as conexões e sinapses realizadas a partir da desorientação sonora apresentada no programa. E ainda hoje, com toda essa imensidão de informação disponível, chego a vários sons graças ao foco preciso proporcionados pela curadoria e pela co-co-curadoria, sendo exemplos recentes as maravilhosas Aldous Harding e Camille O’Sullivan.
Lembro de um momento hilário com o Lulu Santos sendo apresentado à “Dança da Manivela” e esculachando o querido Pavement em algum momento dos anos 90 que valeria ser resgatado para o VAPODN. Algo que requisitaria um trabalho hercúleo de arqueologia e restauração seria garimpar a primeira vez em que apareceram nomes fundamentais da mitologia ronqueira como PJ Harvey, Chico Science, Strokes, Rappa, Arctic Monkeys, Nick Cave….
Seguem anexas as imagens da Pipoca Moderna, clicadas na xeretinha mequetrefe do espertofone. E aproveito pra pedir uma da musa PJ Harvey, de preferência alguma do Dry, pra relembrar a mágica da primeira audição. Longa vida ao Ronca-Ronca, que seguirá para sempre eternizado através da Tripinha.
Saudações rubro-negras para Nandão-a-Lenda e um abraço do fiel ouvinte Joriba.”
Luiz Pereira